Minha posição sobre a Copa é bem peculiar. É bem diferente
da maioria das pessoas. Uns são contra,
outros são a favor e eu acho que esse assunto não devia ser tratado dessa forma
binária. Na minha visão, é preciso perceber que a realidade é o produto da
somatória das ações das pessoas. É preciso que fique mais claro que só é
possível esse investimento de bilhões, graças à alta audiência do evento. É o
interesse das pessoas que produz a oferta do produto. As pessoas querem futebol, as pessoas
sustentam o futebol.
Minha posição é peculiar também, porque apesar de achar
legitimas e justas muitas demandas da população nas manifestações, tenho
certeza que há formas mais fáceis de lidar com o problema. Bastava que as
pessoas não assistissem futebol, não sustentassem nem apoiassem nada envolvido
com futebol. Os investimentos de governos e empresas simplesmente não
existiriam. Isso não seria mais fácil e mais certeiro do que ir às ruas? Qual
melhor protesto do que aquele que resolve o problema?
Por mais nefastos que possam ser empresas ou governos, é
preciso aceitar que é a população que cria e mantém a realidade. Então os
protestos não deviam ser contra o governo ou a FIFA, devia ser contra as pessoas
que estão, no seu dia-a-dia, apoiando e sustentando tudo isso.
Podemos pensar também, que as pessoas não foram educadas com
senso crítico suficiente para que não sirvam àqueles que as exploram. Então
nosso clamor afinal, devia ser por educação e condições dignas para todos. Povo
consciente não daria audiência para algo que atrasa o país.
Uma ponte às vezes é primordial para o desenvolvimento de
uma região, mas muitas vezes, se confunde prioridades e se gasta demais com
coisas e se esquece do ser humano.
Não sou contra o esporte nem contra o entretenimento, por
mais que eu não goste dessa palavra. Só que acho ilógico inverter prioridades. Quem em sã consciência prefere gastar com
estádios se nem o básico a população tem?
Não há dúvidas que há recursos de sobra num país como o
Brasil, mas o mundo inteiro sabe: no Brasil a desigualdade é gigantesca! Toda
sociedade tem desigualdades, todas. Mas o fato do Brasil ser um dos países mais
desiguais do mundo devia apontar que passamos dos limites. Não é segredo que essa
desigualdade abismal tem relação com a altíssima taxa de criminalidade. No
ranking de 132 países, sobre segurança, o Brasil ocupa a posição de 122º. (http://www.socialprogressimperative.org/data/spi/components/com4#data_table/countries/com4/)
É preciso maturidade emocional para encarar a realidade: A
FIFA não é vilã sozinha, é a população que dá força e sustenta a Copa. Não venha com a contra argumentação dizendo que
entretenimento alivia o sofrimento da população. Isso é absolutamente ilógico.
É ao contrario! É o que causa e mantém o atual estado de coisas.
Seja criativo, entretenha-se com sua família e amigos, tem
tanta coisa boa pra fazer. Bom, como eu sou sonhador, me permito imaginar o dia
em que ninguém apoiará esse absurdo. Posso sonhar, já que é livre, com os
jogadores se recusando a entrar em campo, com vergonha de participarem de todo
esse esquema perverso.
Enquanto o sonho não chega eu vou fazer a minha parte, não
vou dar audiência para isso. E você?
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