O planeta é cheio de recursos e repleto de pessoas
inteligentes e criativas, mas ao mesmo tempo é repleto de pessoas que sofrem e
pessoas violentas.
Parece ponto pacífico que se fossemos capazes de cooperar e
de chegar a consenso conseguiríamos uma sociedade muito mais pacífica e
saudável. Então porque não conseguimos? Quais são os obstáculos? Seriam as diferentes
visões de mundo?
Para além das divergências políticas e religiosas, que
deixam a visão de mundo tão diferente para cada um, há alguma coisa que
impossibilita o respeito pela visão do outro e induz a tentativa de impor a sua
visão aos outros. O que seria isso?
Fragilidade emocional. Em outras palavras, imaturidade. Sim,
quando estamos emocionalmente instáveis e desequilibrados, agimos sem sensatez.
Nesse estado há tendência de inferir que a causa do sofrimento é o outro, pois como
partimos do princípio que nossa visão de mundo é a correta, somos impelidos a
imperializar o outro. O problema estaria resolvido quando o outro conhecesse “a
verdade”.
O primeiro equívoco é considerar que “a verdade” pode ser
imposta, quando na verdade a concepção da realidade acontece segundo as
possibilidades de cada um. Sempre através das convicções e pela compreensão.
Tentar colonizar o outro é violência e pura perda de tempo.
O segundo equívoco é considerar que a causa do sofrimento é
o outro. Na síndrome de Estocolmo o sequestrado passa a gostar da situação que
se encontra. Há diversos outros exemplos ao longo da história de escravos que
gostavam da situação que se encontravam. Ou seja, o estado de sofrimento, por
incrível que pareça é uma decisão. Por isso uma situação que é horrível para
uma pessoa pode ser confortável para outra. A maneira como nos relacionamos com
a realidade é que resulta ou não em sofrimento.
Mas então, se não podemos impor mudança aos outros e se eles
não são a causa da nossa insatisfação, o que o é?
A falta de compreensão de si. Em outras palavras, a falta de
capacidade de estar em paz consigo. Esse estado de paz permite uma felicidade
tal, que o desequilibro emocional e a instabilidade diminuem. Somente nesse estado
é que temos respeito e compaixão.
Para uma nova sociedade, mais pacífica e mais justa, não
adianta nos engajarmos em debates infindáveis. Se investíssemos no equilíbrio
emocional e tivermos, cada vez mais, pessoas emocionalmente saudáveis e
sensatas, os problemas de relacionamento desaparecem e aí sim há alguma
possibilidade de consenso. Enquanto as pessoas estiverem emocionalmente frágeis
e instáveis, sempre haverá discórdia e conflito.
Até a educação formal e o conhecimento acadêmico são menos
importantes que essa inteligência emocional, pois o inculto que está em paz
consigo, terá estabilidade emocional para sempre aprender algo.
Esse estado de equilíbrio emocional é uma riqueza difícil de
ser medida. É algo como um estado de maravilhamento com a natureza e com própria
existência.
Você deve estar se perguntado o que tudo isso que leu até
agora tem a ver com o título desse artigo. Tudo.
Para se experienciar o estado de equilíbrio emocional não é
necessário fazer um curso ou comprar um kit especial, basta, pasmem, conhecer-se.
Nos dias de hiperestímulo de hoje em dia, com uma quantidade
colossal de informação que nos chega às mentes é muito difícil que se comece
o autoconhecimento pela mente. Ela anda tão acelerada e cheia, que seria mais
fácil estar no meio de uma nuvem de gafanhotos e conta-los do que observar o
turbilhão de pensamentos.
Nos resta então, começar pela parte mais palpável e visível de
nós: o corpo. E então, fazer investigação minuciosa de todas as amplitudes e capacidades dele, em outras palavras, a conscientização corporal. Um processo que
sintoniza nossa auto-imagem com a realidade.
Com o processo de olharmos para si e desfazermos ilusões e
equívocos, a mente e as emoções vão se estabilizando e gradativamente vai
surgindo mais equilíbrio emocional. Com mais equilíbrio emocional, podemos começar
a observar a mente e então, o conhecimento de si se amplia mais.
A revolução de fato se dará quando os indivíduos forem equilibrados emocionalmente. Enquanto esse momento não chega a cena será a de sempre, disputas sistemáticas sem grande chance de conciliação.
Esse processo que descrevi, não é invenção minha. Talvez você até possa conseguir fazer essa odisseia toda sozinho, usando sua criatividade e esforço. Essa busca de equilíbrio emocional começando pelo corpo é uma sabedoria bem antiga e é chamada de Hatha Yoga.