sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Anarcocapitalismo??? Ahhh!


Já faz um tempo que está circulando pela comunidade de vloggers do youtube algumas reflexões sobre o assunto e eu também gostaria de contribuir. Mas confesso que pra mim esse é um tema meio esdrúxulo, eu precisei de um bom tempo para trata-lo com a devida seriedade e respeito. Afinal, eu entendo que várias cabeças pensam melhor do que uma, e estou no youtube pra fazer amigos.

Mas antes de anarcocapitalismo, o que é anarquismo? O que é anarquia?

Anarquia significa ausência de soberanos, ou ausência de governo. Eu acho que fica ainda mais claro dizer ausência de hierarquias, ou seja, não há ninguém com mais poder do que os outros.

Bom, teoricamente a anarquia não é um termo pejorativo, pelo contrário, é um objetivo de longo prazo, daqueles que pensam que todos os seres humanos tem que ter os mesmos direitos.

Já no senso comum, anarquia foi maquiavelicamente ao longo da história, associada à bagunça. Digo maquiavelicamente, porque quem detém poder sempre tenta diminuir qualquer coisa que seja contrário a ele.

Mas os anarquistas, de modo geral, não defendem a ausência de regras, pelo contrário. As regras de boa convivência são necessárias para a vida em sociedade. Só que consideram que as regras devam ser concebidas com a participação de todos e não impostas de um pequeno grupo para os demais.

Voltemos aos anarcocapitalistas. Na verdade, eu acho que ao invés de anarcocapitalistas, um termo mais preciso seria ultra-liberalistas. Os ultra-liberalistas acreditam que o mercado não deva ser regulado, acreditam que tudo deva ser privatizado e que a mão invisível do mercado tudo regulará, sem a necessidade do Estado.

Eu prefiro o termo ultra-liberalistas porque não acho legitimo misturar os termos anarquia e capitalismo. Bakunin e Proudhon, anarquistas teóricos, entendiam que a anarquia é um alto grau de fraternidade e cooperação. Já o capitalismo é reconhecido pelos elevados níveis de competição e individualismo. Então pra mim, não tem nada a ver misturar esses dois termos.

Pessoalmente, e eu já disse isso em meu canal, também acho que o modelo de Estado contemporâneo está bastante obsoleto e precisa ser reformulado. Seria com certeza muito melhor que não precisássemos do Estado. Mas então quais são meus argumentos contra os ultra-liberalistas?

Vocês já assistiram um documentário chamado: The Corporation? Esse documentário mostra o que de fato é a natureza das corporações. Elas produzem as externalidades, que são os prejuízos que as empresas causam à sociedade para produzir o lucro.

Então o principal argumento contra o liberalismo é que o lucro é simplesmente o enriquecimento de alguns, graças ao prejuízo de muitos. Mas porque isso é ruim? Porque quando há explorados e escravizados, haverá grande chance de conflitos, violência e guerra. O que é Ponto Pacífico, ninguém quer, não é?
Portanto, para o momento atual, eu acho sim que precisamos de regulações. Vejamos:

O neo-liberalismo, tão bem difundido por Reagan e Tatcher simplesmente resultou no atual colapso econômico da Europa e Estados Unidos. A crise de 2008 foi causada pela falta de regulação adequada. Outro fator que contribuiu para a atual desindustrialização da Europa, foi a busca inconsequente das empresas por mais produtividade e lucro e seu deslocamento para a China.

Vejamos no Brasil. As empresas de telefonia celular e de internet, por exemplo, são horríveis. As empresas se aproveitam do monopólio que adquiriram e não se esforçam muito para oferecer serviços de qualidade. (Eu já falei disso em outros vídeos). E sabe quanto de lucro elas andam fazendo por aqui? É gigantesco! E você já tentou ligar para reclamar pra ver o que acontece? Você já tentou trocar de operadora para encontrar um serviço melhor? É tudo a mesma coisa.

Então precisamos de agências reguladoras sim! Para que o Estado exija qualidade de serviços e defenda o interesse da população. Porque se deixar, as empresas vão oferecer serviços cada vez piores por preços cada vez maiores. Lembremos que elas buscam o máximo lucro.

Em minha opinião, defender o ultra-liberalismo é ser ingênuo, é acreditar que as empresas não farão mal à sociedade, quando sua natureza é justamente procurar lucro a custa de externalidades e buscar monopólio.

Para complicar, a mídia brasileira não mostra devidamente o que está acontecendo na Europa. Tudo do neo-liberalismo que lá foi implantado para diminuir o ‘Welfare State’ só gerou o aumento da miséria, da desigualdade social, da violência, do desemprego e sim, o enriquecimento de poucos, como os banqueiros. O descontentamento dos chamados “indignados” é preocupante. O povo de lá clama por uma organização social que permita um mínimo de qualidade de vida. Defender as corporações é sinônimo de ser contrário às pessoas.

Portanto, toda vez que você ouvir falar de ‘anarcocapitalismo’ veja a instabilidade (em diversos níveis) que o neoliberalismo gerou mundo afora e imagine o que aconteceria se ficássemos somente nas mãos das tão ‘boazinhas’ empresas... Até no Canadá, em Montreal, houve recentemente protestos contra mais perdas dos direitos dos estudantes.

A direção que temos de tomar é de aprimorar nossa democracia e criar consenso ao redor da ideia de que o importante não é a concentração de renda nas mãos de poucos. Uma sociedade só pode ser desenvolvida se todos tem vida digna.

Mas eu acredito que compreendi bem o argumento dos anarcocapitalistas. Eles defendem o empreendedorismo e o fim da burocratização, o que eu acho ideias bem interessantes. O único problema é acreditar na auto-regulação.

Na analise cuidadosa feita no documentário The Corporation, conclui-se que as corporações não têm escrúpulos. Inclusive, segundo o documentário, se fosse para traçar um perfil psicológico para as grandes corporações ele seria de psicopata.

Atualmente é, portanto, impossível deixar que corporações, que já tem destruído tanto nosso meio ambiente e economia, dirijam sozinhas, sem nenhuma intervenção do Estado, a economia e a política. Sim, é verdade que muitas vezes o Estado é já marionete das corporações através de lobbys e outros mecanismos, mas mesmo assim, é um limitador da inconsequência das empresas. A subtração do Estado não resolveria o problema. Corporações e Estado são ambos instituições antiquadas que não condizem com o mundo contemporâneo, que não condizem com a tecnologia disponível.

O cada um por si dos ultra-liberalistas, me faz lembrar de Thomas Hobbes, que falava da guerra de todos contra todos. Justamente era ele que defendia a necessidade da existência do Leviatã, do Estado, para evitar essa guerra. Não concordo que a natureza humana seja tão negativa, mas também não penso que para já estejamos prontos para viver sem regulações.

Num futuro, quando formos mais desenvolvidos e todos tiverem alto nível de educação, ficará mais óbvio que o objetivo de todos nós só pode ser construir uma sociedade cooperativa.  Aí então, não haverá mais a necessidade do Estado regular a ganância doentia das empresas, nem haverá mais a necessidade de Estado.